terça-feira, 14 de junho de 2011

Educação x Corrupção


Estudo de Alberto Carlos Almeida mostra que a admissão de valores negativos é inversamente proporcional ao nível de escolaridade. - Foto: Internet/Soares
O que a corrupção tem a ver com a escolaridade? Para quem ainda não se convenceu da importância da educação, o estudo do sociólogo Alberto Carlos Almeida, publicado sob o título “A cabeça do brasileiro”, é um grito de alerta. As suas conclusões vão frontalmente de encontro ao mito de que a nossa elite - aí incluída a classe média - é sempre perversa e o povo é sempre bonzinho. Em sua maioria, os valores positivos estão mais enraizados nas classes média e alta – as de maior escolaridade – e os valores negativos predominam nas classes baixas – as de menor escolaridade.

A partir de uma pesquisa que captou os valores enraizados na sociedade brasileira,  Almeida concluiu que a tolerância à corrupção, por exemplo, se confunde com o famoso “jeitinho brasileiro’, e que ela é maior quanto menor for a escolaridade do cidadão. Segundo estudo de Almeida, 57% dos que têm até o ensino fundamental são mais autoritários, mais estatistas, e mais antidemocráticos, ou seja , têm características que revelam o seu distanciamento dos valores republicanos.

Traduzindo em miúdos, se socorrem do “jeitinho”, têm pouco espírito público, defendem a lei do talião, são a favor do assistencialismo governamental, são contra a liberdade sexual, apóiam a intervenção do Estado na economia e na sociedade, são condescendentes com a censura, aceitam cegamente a hierarquia, e , por fim, são mais tolerantes com a corrupção. 

Almeida encontrou na classe média escolarizada o maior índice de valores positivos. É neste setor da sociedade que encontramos uma maior valoração da democracia, do liberalismo e do republicanismo e a compreensão de que eles são fundamentais para uma boa convivência social e política. Assim, num contraponto aos valores que impregnam as classes menos escolarizadas, encontramos na classe média uma maior rejeição ao “jeitinho”, à corrupção, à censura, ao assistencialismo governamental e ao intervencionismo do Estado. 

A publicação do livro vem provocando uma reação irada em setores acadêmicos e políticos de esquerda, que, numa visão maniqueísta e com pouco embasamento teórico, quiseram nos fazer crer que os que eles definem genericamente como elite estava impregnada de todos os pecados, em contraposição ao povo, detentor de toda pureza original. Dentro desta visão, o comportamento corrupto dos políticos de Brasília seria muito mais uma degeneração da sociedade que os elegeu do que a reprodução, no microcosmo político, de uma sociedade em sua maioria tomada por valores pouco republicanos e pouco éticos..

Porém, muito além de mostrar que os pecados cometidos pela nossa elite política são um prolongamento, no executivo, no legislativo e no judiciário, dos valores enraizados no povo, o estudo mostra que a educação é fundamental para a alteração destes valores num sentido positivo.

Em que pesem as críticas da esquerda, o fato é que o livro de Almeida se constitui num importante lançamento, especialmente porque não se limita a repetir mecanicamente as velhas teses pseudo-marxistas que têm dominado o campo das ciências políticas e sociais do Brasil nas últimas décadas.. O seu diagnóstico nos leva a refletir, por exemplo, sobre por que o imbróglio de um presidente do Senado e do Congresso atolado até o pescoço por denúncias de corrupção, não tem merecido uma atenção maior da sociedade, do que aquela que lhe tem dedicado uma parcela da mídia e alguns poucos setores da classe média. Mais ainda, nos leva a entender por que um presidente da República atolado num lamaçal de corrupção que tomou conta do núcleo do seu governo, acabou por ser reeleito de forma consagradora, enquanto o candidato que fazia da revolução educacional a sua bandeira de campanha mereceu menos de 3% dos votos válidos. 

Num país onde o programa asssistencialista de Lula – o Bolsa Família – receberá em 2008, mais que o dobro (R$16,5 bilhões) dos investimentos previstos para o orçamento da Educação (R$ 8 bilhões), as conclusões do estudo de Almeida mostram uma luz onde muitos insistem que permaneçam as trevas. 

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